Esses dias, enquanto revisava um conto que eu havia escrito, deparei-me com algumas indagações sobre o ponto, é, o ponto, este que vai estar logo ao final desta frase. Viram? Mas as indagações vieram para a vida real. Qual é o ponto da vida em que precisamos terminar uma frase ou um longo parágrafo? Quando devemos dar um ponto, para recomeçarmos logo após ou quando devemos dar um ponto final e começar outra linha?
Todos os dias
ao entardecer eu me visto para correr e calço meus tênis. Saio pela rua da
minha casa, passo por uma praça, sigo em frente até chegar a uma estrada de
terra e por lá eu começo a correr. Ali, sozinho , correndo a passos largos eu
vou pensando e digerindo o meu dia, digerindo o que falei para alguém,
digerindo relacionamentos, cobranças, trabalho, amores. Ali , em meio às minhas
reflexões, acontecem vários pontos na minha vida, alguns pontos finais e outros
tantos pontos que servirão para eu recomeçar no próximo dia.
Em um desses
dias eu recebi pelo menos uns dois pontos finais que eu não desejava. Dois
pontos finais que foram como balas atiradas de um revólver que atingiram bem no
meio do meu peito. Corri desesperado por aquela estrada de terra. Eu estava ofegante,
mas não conseguia parar – queria que tudo aquilo fosse embora dos meus
pensamentos de uma vez. Por isso corri, corri, corri e corri ainda mais e
decidi não olhar para trás. O sol foi caindo devagar no horizonte e aquele dia
lindo foi se acabando. A noite foi caindo e eu já fazendo o caminho de volta
corria um pouco mais devagar. O sol sumiu diante dos meus olhos e uma noite
linda surgiu (com uma lua crescente maravilhosa, com as estrelas que ainda não
se via claramente e com as luzes da cidade que dali eu conseguia ver
acendendo).
Andando os
últimos metros antes de chegar em casa, cansado e suado, lembrei-me vagamente
daqueles dois pontos marcados no meu peito. Decidi então que não iriam ser
pontos finais mortais, mas dois simples pontos de uma história que no próximo
dia eu voltaria a escrever. A minha vida está cheia de pontos, pontos finais,
dois pontos, reticências e até pontos de cicatrizes já bem curadas e algumas
ainda por curar. Mas o ponto final ainda está longe de chegar.
João Pinheiro
(joazinhopinheiro.escritor@gmail.com)
Muito bom como escreveu e como descreveu esse momento. Parabéns, não desanime pois o sol vai raiar novamente amanhã.
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