sexta-feira, 26 de junho de 2020
Detalhes
sexta-feira, 19 de junho de 2020
A saudade que fica
Eu sou um cara que gosto de caminhar, de correr, andar a pé e de carro. Andar acompanhado ou sozinho, tanto faz. E quero continuar caminhando por esta Terra até os meus mais longínquos anos, até quando minhas pernas não aguentarem mais, até quando meu cérebro não conseguir mais dar sinais aos meus membros, enfim, quero caminhar, correr e viver até os meus duzentos anos.
Mas além da caminhada física existe a caminhada da vida, que mesmo que eu esteja andando perfeitamente pode ser que o meu caminhar morra por agora. Ou pode ser que meu corpo já não consiga mais ficar de pé e mesmo assim estarei caminhando por este mundo que vivemos. Há pessoas que caminharam muito por aqui e deixaram sua marca, outras que caminharam pouco e também deixaram a sua assinatura por aqui. Talvez uma longa vida tenha apenas uma breve história e uma vida curta seja um romance épico.
Há uns dias perdi um grande amigo, não só eu, mas muitos que conheço também perderam esse cara. Ele partiu cedo, uma breve caminhada por essa longa estrada da vida, mas que deixou uma marca enorme no coração de muitos que aqui ficaram. Um buraco se abriu em meu peito e um misto de tristeza e raiva, por ele ter partido tão cedo e sem se despedir, tomou conta de mim - e como sou chorão não pude conter as lágrimas que pulavam dos meus olhos sem parar, e não havia lenço ou óculos escuros que pudessem escondê-las.
A vida de uma pessoa aqui na Terra é apenas um cisco se comparada à imensidão do tempo e da vida que está neste planeta há milhões e milhões de anos. Mas ela pode ser eterna se a pessoa deixou por aqui amigos e amores com quem compartilhou sua breve história. Esse amigo me deixou a saudade de suas risadas, de sua simpatia, deixou a saudade dos nossos brindes, das piadas e das brincadeiras. Deixou a lembrança dos bons momentos vividos juntos assistindo aos jogos do nosso time, fazendo churrascos e uma série de outras coisas que se fosse escrever dariam um livro enorme.
A caminhada dele foi breve se comparada a de outras pessoas que vivem até seus oitenta, noventa ou até aqueles que chegam a cem anos. Mas deixou um buraco no coração daqueles que o conheciam, um buraco que dificilmente será preenchido. Sempre que entrarmos naquele determinado lugar vai ser difícil estar lá, não vê-lo e não derramar algumas lágrimas. Escrevo agora com os olhos embaçados pelas lágrimas que ainda escorrem quando penso nele. Tudo de bom que ele foi tem um pouco guardado em cada pessoa que o tinha como amigo, mas ficou também a saudade de termos um último brinde, uma última risada ou simplesmente um último aceno de até logo.
Descanse em paz meu amigo, a saudade que aqui se instalou será eterna até que eu e outros amigos seus se forem também. É difícil escrever este texto pois escrever e chorar ao mesmo tempo dá trabalho. Enxugo as lágrimas e escrevo algumas palavras, enxugo mais algumas e escrevo outras letras. Tem horas que nem dá tempo de colocar uma vírgula e as lágrimas estão novamente escorrendo pelo meu rosto. Enfim, essa é uma pequena homenagem, e escrever é o jeito que sei de demonstrar meu sentimento a alguém. Um amigo que eu fiz recentemente falou para que eu escrevesse algo em homenagem a este amigo meu que se foi, então esse texto é pra você, Zoio. Você se foi e a saudade perdura no coração de todo os seus amigos e familiares que aqui ficaram, tenho certeza.
João Paulo Pinheiro Tonon
joaozinhopinheiro.escritor@gmail.com
sexta-feira, 12 de junho de 2020
A semente, o fruto e a colheita
sexta-feira, 5 de junho de 2020
Os Desajustados
Para quem não conhece, “Tetris” é um jogo eletrônico tipo
quebra-cabeça, formado por peças que vão caindo pela tela e o jogador tem que
ir encaixando as peças até que se forme uma linha perfeita na parte de baixo da
tela. Quando formada, esta linha é eliminada. Se o jogador não for conseguindo
eliminar essas linhas, as peças vão amontoando até chegar ao topo da tela impedindo
que mais peças caiam (nessa hora o jogador perde o jogo, pois não conseguiu
encaixar as peças corretamente). Este jogo foi popular nos anos 90 aqui no
Brasil e muita gente jogou, inclusive eu.
Analisando esse jogo lembrei-me de
algumas situações em que as peças das nossas vidas não se encaixam. E nessa
hora estamos deslocados, não correspondemos aos padrões que esperam de nós.
Todas as outras peças bem encaixadas olham para nós com desconfiança e até
desprezo. A engrenagem está andando, todos se sentem confortáveis, mas vem
aquela peça deslocada e acaba com a paz de todos. É fácil elas aceitarem uma
peça perfeita que caiba no espaço que falta, o difícil é aceitar uma peça mal
colocada.
A sociedade vive em uma bolha de
perfeição, de comportamentos adequados, de pessoas que são exemplos de algo, de
família e de certo e errado. Os chamados desajustados vivem à margem desta sociedade,
tendo que conviver com o preconceito, com a discriminação, com o isolamento
(não esse isolamento social que vivemos). Alguns convivem com a culpa de serem
diferentes, pois simplesmente não são aceitos no meio em que vivem. Esses
desajustados se forem fracos, vão sofrendo, sofrendo e sofrendo mais um pouco,
até que talvez não aguentem.
Os ditos perfeitos vão cada vez mais expulsando
os imperfeitos para fora dos seus convívios. Vão os ignorando, vão evitando
contatos e preferem não conviver. Os ajustados não querem ver sua vida
bagunçada por algum desajustado, o conto de fadas de uma vida perfeita não pode
ser desconsertado e nem estremecido por alguém que pense diferente. A
diversidade e a pluralidade de pensamentos não podem intervir em uma vida dita “perfeita”.
Ou você, desajustado, se molda à vontade da maioria, ou você não servirá para
eles. Há séculos as pessoas vivem assim, aceitando só o que foi-nos dito que é
normal e repugnando aquilo que é diferente. O preconceito não é só contra cor
de pele, é também contra pensamentos e atitudes que diferem da maioria. Se a
maioria de um determinado grupo pensa de uma forma e alguém que seja
considerado um desajustado dá alguma ideia diferente, é prontamente descartado
sem sequer pensarem no que ele falou. Assim ele vive cada vez mais à margem
deste grupo.
Muitos desajustados do passado são hoje
considerados grandes gênios da matemática, da física, da literatura, música,
cinema, política, etc. Nesses casos, aqueles que eram considerados errados agora
são exaltados pelos mesmo que os criticavam. Acontece que, nem todos os
desajustados conseguem alcançar um reconhecimento desse tamanho e vivem cada
vez mais isolados, mesmo vivendo dentro de uma sociedade. Essas pessoas não têm
voz onde estão, não têm poder de influenciar, não têm poder de conviver ou de
conquistar a empatia da maioria “perfeita”. Os ajustados, na maioria das vezes,
sabem olhar muito bem o erro dos outros e minimamente os próprios erros. Sabem
como ninguém apontar o dedo, mas se um desses diferentes ousar lhes apontar o
dedo, o leite azeda na hora.
É a grande hipocrisia da humanidade que
aprendemos desde criança a aceitar e ter como certa. É o grande círculo do
preconceito velado, do fingir que não viu, do fingir que não entende. É esse
mecanismo incrustrado na convivência das pessoas que vai deixando o mundo e as
pessoas cada vez mais individualistas e separadas, cada um vivendo uma verdade.
O pluralismo de ideias, de pessoas, de raças, de cores, é o grande presente que
a vida nos deu, e quanto antes aprendermos a usar este presente para o bem da humanidade
melhor o mundo estará (ser diferente não quer dizer ser errado).
João Pinheiro
joaozinhopinheiro.escritor@gmail.com