Esses dias, enquanto recebia uma notícia ruim de um grande amigo falecido, também recebi a notícia do nascimento da filha de outro grande amigo. Foi um misto de emoções, e num intervalo de segundos eu chorava de tristeza e logo depois, chorava de alegria. As lágrimas rolavam pelo meu rosto sem cessar. Eu estava incrédulo por causa da morte, porém radiante com o nascimento. Isso tudo me fez pensar sobre como a vida é um sopro, como ela é frágil e breve. Mesmo que se viva cem anos ainda é breve perante a infinidade do tempo.
O começo e o fim, vida e morte, opostos, porém um completa o outro. De um lado a alegria de uma vida que se inicia e do outro a tristeza de uma vida que se vai. A vida é tão frágil nos primeiros momentos vividos como nos últimos. São coisas que se contrapõem, mas um não existe sem o outro. Enquanto uns chegam outros se vão e a grande roda da vida continua girando sem parar (felicitando os recém-chegados e não tendo pena dos que partem).
Assim que começamos a viver nossa adolescência não damos muita importância para o tempo - vivemos intensamente todos os nossos sentimentos, choramos como se o mundo fosse acabar amanhã e rimos sem nos importarmos se seremos taxados de loucos. Todo dia é o famoso carpe diem (aproveite o momento) quando estamos passando por essa fase. Quando vamos passando pela vida adulta tudo vai mudando, a percepção do tempo, as coisas que importavam já não importam mais, os sonhos mudaram, os amigos não são mais os mesmos, uns se casaram, outros mudaram de cidade e outros de personalidade (e infelizmente alguns se foram para nunca mais voltarem)
A vida adulta vem nos dar tapa na cara, mostrar que não podemos mais perder tempo porque pode ser que não o tenhamos mais. Cada ano que envelhecemos, antes contávamos como mais um, e era uma festa fazer quatorze para entrar na boatinha e também para tirar a tão sonhada carteira de habilitação, hoje contamos como menos um - menos um ano para conquistar tal coisa, menos um para estar com aqueles que amo, menos um ano para aprender algo novo. E talvez pensamos que temos ainda tanto tempo, mas podemos estar enganados e uma rasteira do destino nos derruba e todos vão comentar ao nosso lado - nossa, ele era tão jovem. Foi cedo demais.
A nossa vida é uma grande plantação e por aqui mesmo colhemos o que plantamos. Se você só plantou coisas ruins até hoje, você só colherá coisas ruins, mas, se passar a plantar coisas boas a partir de agora, até essas árvores boas crescerem e darem frutos, aquelas ruins, plantadas antigamente, continuarão dando frutos, pois, você as regou até pouco tempo. Agora, se souber esperar as plantas ruins secarem, aí sim você colherá apenas os frutos bons. E assim somos postos nesse mundo e como jardineiros, plantando nossas árvores, colhendo nossos frutos, mas também sabendo que fomos semeados e também poderemos sermos colhidos a qualquer momento.
Se sentíssemos essa brevidade, talvez não nos enraízariamos a fatos ruins, à matéria .... salvo engano, rubem Alves fala sobre esse jardim num vídeo antigo do youtube de uma formatura da Unicamp.
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