Mais um dia se
inicia e lá se vão os mascarados. Mais um dia corrido e a pressa para não
perder o ônibus corre ao lado. Se antes, por correrem atrás dos ônibus já
ficavam ofegantes, hoje ficam ainda mais. - Corre! Ei, motorista, me espere.
Que sufoco. Uma falta de ar os assola neste momento. Diria até mais, falta de
amor, de carinho, de toque, de saliva, de abraços, de conversas, de amigos, de
bares, baladas, balas, chicletes e falta da praça.
Praça ou “parças”?
Praça mesmo (mas também dos “parças”). Que falta a praça me faz. Andar pelos
seus caminhos largos e sinuosos. Comer pastel, um crepe ou um lanche, tomar um
suco ou um refrigerante. Ficar ali de bobeira vendo as pessoas passarem com
seus filhos, netos e até bisnetos. Vendo casais jovens, de meia-idade ou outros
casais já naquela idade que é tanta sabedoria que o corpo padece. Como faz
falta ver as pessoas se divertindo, saindo com os amigos, com os pais e com os
filhos.
Faz muita falta
sentar à sombra daquelas árvores que estão ali há muito tempo acompanhando cada
pessoa que por ali passa. Se elas falassem acho que seriam uma ótima companhia
para sentar e bater uma prosa. Elas contariam do tempo em que ali era apenas um
terrão danado. E se lembrariam de quando as primeiras pessoas chegaram, quando
o primeiro trem apitou chegando à estação. Quando as primeiras pessoas cantaram
no antigo coral. E com certeza lembrariam com tristeza do dia em que o
demoliram. Talvez até uma gota triste de seiva escorresse de suas cascas.
Essas árvores
contariam como viram cada cidadão da nossa pequena cidade nascer, crescer,
subir em seus galhos e pousarem iguais a um passarinho. Contariam como fulano,
uma vez, brincando de esconde-esconde, escondeu-se atrás do seu tronco e as
outras crianças não o achavam. Elas se lembrariam dos tempos em que as torcidas
comemoravam os títulos dos seus clubes por ali. Hoje elas certamente estão
tristes esperando por uma companhia, esperando para ver mais uma criança
crescendo e virando um adulto. São tempos difíceis para nós e para elas também.
Eu sinto a
falta da praça e dos “parças”. Sinto falta de cumprimentar dando a mão para
alguém, já que agora nos cumprimentamos com o cotovelo – que jeito mais sem sal
e sem açúcar de se cumprimentar alguém. Mas é o que temos para hoje,
cumprimentos com os cotovelos, rostos mascarados e uma esperança louca de que
tudo isso vire passado o mais rápido possível. Vivemos com a esperança de que
acordaremos amanhã com alguém aplicando uma injeção em nosso braço e dizendo
com uma voz suave – pronto, acabou! E com certeza será a injeção mais gostosa
que tomaremos na vida.
Joao Paulo Pinheiro Tonon
Joaozinhopinheiro.escritor@gmail.com